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Ela era o único pedacinho nublado do céu de Abril |
Cara menina minha, eu te peço, pelos dias solitários de
desconsolo, as longas tardes ociosas, deitada num canto qualquer de mágoas, ora
aos prantos, ora ao limbo, sofrendo sozinha pelo que ninguém entendia, mas que
eu entendo melhor.
Sofrendo sozinha de raiva e remorso, por minha culpa, não
por tua.
Minha menina bonita, que não gostava do espelho tadinha, tão
feinha te deixei pensar que era. Minha menina querida.
Sinto muito as falas, as longas falas, intermináveis, para
paredes e corredores, filas de gente que não te queria ouvir. Só eu devia
ouvir, mas eu estava tão longe, tão longe…
E você gritava, minha menina esperta, em busca da minha
atenção e, no meio do caminho, ficavam suas boas ideias zombadas. Porque só eu
devia ouvi-las. Minha menina abandonada.
Se eu houvesse chegado mais cedo, te amaria como você devia
ter sido amada.
Te abraçaria, beijaria, ouviria cada uma de suas mágoas,
prestaria atenção em suas histórias e cuidaria delas, com tal zelo, antes e
tanto, que você não as quereria dar a ninguém mais.
Eu
cuidaria das tuas angústias de amor, amando-te a cima de tudo, porque só eu sei
te amar de verdade.
Minha menina amada, como você teria sorrido se eu houvesse
chegado antes.
Muitas lágrimas a menos você teria chorado.
Muitos dias a menos você teria perdido.
Muita felicidade a mais teria conhecido.
Menina dos meus olhos, desculpe por te deixar ser minha
menina abandonada.
Mas a você eu tenho com carinho.
Minha menina… eu.