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29 dezembro 2010

Tardes Chuvosas: Um beijo de acalento

"Feche bem os olhos... e pense em todos os corações que ja partiu por causa de seu amor por mim"
"Adeus minha querida criança..."

A tarde já se aproximava e com ela vinha o cheiro da chuva de todos os dias. Logo as nuvens se amontoariam sobre a pousada e deixariam cair sua magia, a magia que fazia chover todas as tardes.

Sentado na varanda com seu pincel no queixo, os óculos de aros grossos e o quimono caído aos ombros a imagem do espírito pintor encantou ainda mais os olhos cinzentos do menino parado à porta em silêncio.

Ele, com seus pés gelados no assoalho, segurava a bandeja com o lanche da tarde que a cozinheira lhe mandara entregar. Já havia feito isso tantas vezes, mas todas elas eram difíceis. O simples fato de poder chegar perto daquele belíssimo ser o deixava com o coração a disparar como no soar de um taiko. Ele sabia que no mundo não existia criatura tão bela quanto aquele pintor.

“Por que está me olhando ai parado? Já não disse para parar com isso? Traga logo o meu chá.” disse ele voltando-se ao menino com o canto dos olhos.

Seus olhar e voz poderosos deixaram o corpo de Shin arrepiado, e o menino logo correu para deixar a bandeja ao lado do pintor.

Fez lhe uma mesura e preparou-se para correr, mas o espírito pisou-lhe na barra do quimono e o fez tropeçar a sua frente. Caiu ao chão com um estrondoso bater de testa no assoalho. Mas o menino Shin, que não era de chorar, apenas esfregou fronte avermelhada e desculpou-se pelo mal-jeito.

“Quantas nuvens se vão para que chova todas as tardes nessa pousada?” Perguntou-lhe o pintor ignorando suas desculpas.

Shin pensou em algo sábio para responder, mas como uma criança de apenas dez anos, não conseguiu imaginar nada à altura do culto ser a visar os céus com os olhos caramelados a brilhar. Acabou deixando-se estar em um silêncio embaraçoso.

“Menino.”chamou o espírito, assustando-o com seu tom, como sempre, irreduzível.

Mais uma vez o nervosismo tomou-lhe conta do corpo, deixando sua pele tão branca como a porcelana a parecer à superfície de um caqui. Sentindo suas bochechas aquecerem não pôde fazer nada além de esconder o rosto como faria uma donzela envergonhada. Não queria passar a ele essa impressão, do contrário não se sentiria digno de ao menos servi-lo, mas com sua frágil estrutura corporal e os longos cabelos os quais a mãe, por mais desatenta que fosse a ele, não permitia que cortasse, davam-lhe um aspecto de imensa sensibilidade.

“Tire as mãos do rosto.” Ordenou ele sem alterar o tom lento de sua voz.

Shin negou veemente. O que seria mais embaraçoso do que revelar sua vergonha ao admirado pintor?

“Agora.”

Não havia como desobedecer aquele tom. Shin baixou as mãos para o colo, mas manteve seus olhos no chão, receoso da reação que teria o espírito de vê-lo em tal situação.

Primeiro o pintor levantou-lhe o queixo, mas ainda olhando o céu. Então lentamente seus olhos intensos voltaram-se ao rosto do menino petrificado. Carinhoso a sua maneira fria, tocou-lhe a testa com as costas da mão.

“Está com febre, criança?” Perguntou-lhe com suavidade. “Seu rosto está vermelho.”

“E-eu apenas machuquei a minha testa. Desculpe o incômodo.” Pediu o menino esquivando-se daquela macia mão e baixando o rosto.

Neste mesmo instante, os lábios finos do espírito tocaram-lhe a testa e suas mãos delicadas lhe tocaram a face, por um longo tempo, em um beijo de acalento do qual Shin nunca mais esqueceria.

As gotas de chuva começaram a cair.

“Vá brincar menino.” Disse o espírito afastando-se com os olhos semicerrados.

Shin não hesitou em levantar-se logo após uma mesura breve e correr para longe.

Aimi, o espírito pintor, virou-se para ele por cima dos ombros magros.

“Pobre criança...” sussurrou voltando-se ao papel. “Não posso deixar que continue dessa maneira.”
E dito isso suspirou tranquilamente, admirando a chuva e o cheiro da grama molhada.

Tardes chuvosas é um projeto de história meu(Tenho vários) que está parado por um tempo, até eu concluir uma outra. Conta a história de Shin, um menino frágil a quem a mãe não ama e o pai ignora e Aimi, um espirito pintor que não consegue atingir o nirvana. Se passa em uma pousada em que todas as tardes chove, lugar sagrado que ajuda os espiritos celestiais a descançarem. Esse é um breve trecho que bolei a pouco. Espero que um dia vocês possam ver essa história publicada. Continuem acompanhando o blog e verão mais trechos! *-*
Obrigada pelo apoio e pelos comentários!!!<3

4 comentários:

  1. AHH, entendi -rs
    Depois que mandei um tweet perguntando.

    Mas se ele é um espirito, ele toma chá?

    gostei, anyway <3

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  2. Sim, ele toma xD
    É um chá diferente entende?
    Em várias partes da história ele aparece tomando chá.
    Obrigada!!!! *-*

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  3. Nossa, eu me arrepiei muito lendo *-* eu preciso ler essa história Twin, vou roubar seu caderno!!
    Parabéns como sempre, minha escritora favorita *-*

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  4. Belo conto!
    Os cabelos longos de Shin deram um toque de beleza a sua fragilidade infantil.
    Se puder, comenta no meu:
    http://www.sobreviventesocial.blogspot.com

    Abraço

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